Bancada do Estado
destinou recursos para São Paulo, Distrito Federal e até Antártica
Por Luiza Muzzi
Eles foram eleitos por
Minas, mas o recurso a que têm direito de aplicar nem sempre fica em território
mineiro. Além de privilegiarem as regiões mais ricas do Estado, os 53 deputados
federais e três senadores optaram, na distribuição das emendas parlamentares de
2017, por mandar parte de sua verba para longe. Enquanto áreas pobres, como
Jequitinhonha e Noroeste, foram contempladas com pouco ou nenhum recurso, São
Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal e até a Antártica receberam mais de R$
2 milhões dos congressistas mineiros.
Mesmo com a crise
financeira que tem deixado muitos municípios em situação delicada, inclusive no
atendimento básico da população, oito deputados decidiram reverter uma parcela
de suas verbas ao apoio de unidades de saúde e ao incentivo de pesquisas
localizadas fora de Minas. Levantamento realizado pela reportagem com base em
dados da Câmara dos Deputados revela que ao menos 16 emendas não priorizaram o
Estado.
Somente São Paulo, que
tem 70 deputados federais, foi contemplado com R$ 1,1 milhão apresentado por
parlamentares mineiros para apoio à manutenção de hospitais locais. Rio de
Janeiro e Distrito Federal receberam R$ 200 mil cada. Outros R$ 1,1 milhão
foram destinados a “apoio logístico à pesquisa científica na Antártica”. Ao
todo, os valores superam o que foi direcionado especificamente para prefeituras
de quatro regiões de Minas: Centro-Oeste, Jequitinhonha, Alto Paranaíba e
Noroeste.
Motivação. As
justificativas para tais escolhas muitas vezes demonstram boa intenção dos
deputados. Ainda assim, os repasses para além dos limites de Minas não deixam
de causar estranhamento entre eleitores que depositaram seu voto com a
expectativa de ver sua região atendida.
O deputado Júlio Delgado
(PSB) foi um dos que destinaram R$ 200 mil para pesquisa na região Antártica.
“Alguns programas tomam caráter nacional, e a gente, como deputado federal, tem
que priorizar não só os municípios que representamos. Eu tento fazer isso em
90% das emendas, mas algo posso deixar para programas como esse”, justificou.
Segundo Delgado, a
estação brasileira de pesquisa recebe estudiosos de todo o país: “Por absorver
o Brasil inteiro, não sei qual Estado ficaria responsável. São os deputados do
Rio, que tem litoral? Do Rio Grande do Sul, que é mais próximo? Fico à vontade
de colocar a emenda, e acho que todos deveriam ter colocado um pouco”.
A deputada Jô Moraes
(PCdoB) também destinou R$ 600 mil para apoio à pesquisa na Antártica e fomento
ao desenvolvimento em ciência e tecnologia do mar, oceanos e clima. Outros R$
200 mil a deputada direcionou ao Rio de Janeiro, para um projeto audiovisual de
resgate da memória da luta contra a ditadura militar. “Minha visão é que a
emenda não tem como objetivo vinculação e retorno do resultado eleitoral.
Minhas emendas respondem a um esforço de construção e reforço de políticas”,
defendeu.
Ressaltando que todos os
anos direciona emendas à Marinha, à Aeronáutica e ao Exército, Jô explicou que
muitas vezes a União não prevê verbas, e são as emendas parlamentares que
acabam garantindo a manutenção de programas como o da Antártica. “Exatamente
98% de minhas emendas se realizam no território de Minas. Mas há
excepcionalidades para as políticas de defesa, resistência democrática, ciência
e tecnologia”, completou.
Assim como outros quatro
colegas da Câmara, o deputado Subtenente Gonzaga (PDT) destinou parte de sua
verba à manutenção do Hospital de Câncer de Barretos, em São Paulo. Segundo o
parlamentar, trata-se de uma instituição séria, referência no tratamento da
doença: “É um hospital que atende SUS, e há uma demanda de mineiros lá. Foram
R$ 250 mil para lá, e o restante todo para Minas”.
Prioridades. Pela lei,
cada parlamentar pode apresentar até 25 emendas de execução obrigatória
(impositivas), no valor de R$ 15,3 milhões. As emendas individuais não podem
direcionar recursos para despesa primária obrigatória, e pelo menos metade da
verba deve ser destinada para ações na área da saúde.
Em 2017, as emendas
voltadas para a educação, por exemplo, representaram só 3,7% do total de R$ 1,5
bilhão direcionado pelos mineiros – incluindo as emendas individuais e as
apresentadas pela bancada estadual. O valor é inferior ao que foi reservado a
ações de esporte e lazer.
Limite
Valor. Para 2017, cada
parlamentar pôde apresentar emendas no valor global de R$ 15,3 milhões, o
equivalente a 1,2% da receita corrente líquida prevista no projeto orçamentário
enviado pelo Executivo. (Fonte: jornal O Tempo, edição de hoje, 23/01/2017) no
link http://www.otempo.com.br/capa/pol%C3%ADtica/emenda-vai-para-fora-de-minas-1.1426529
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