JANAÚBA (por Luiz Ribeiro e
Guilherme Paranaiba) – "Parece que essa tragédia nunca passa... Todo dia
morre uma criança.” As palavras da gari Luciene dos Reis Silva, mãe de uma
menina que também estava na Creche Gente Inocente, em Janaúba, resume o
sentimento de dor e perplexidade diante do massacre que ontem fez mais uma
vítima. A filha dela, Paloma Antonielly Silva, de 1 ano e 3 meses, foi salva
por uma professora do massacre promovido pelo vigia Damião Soares dos Santos,
de 50, que ateou fogo ao próprio corpo e deixou um rastro de destruição na
unidade de ensino da cidade do Norte de Minas. Mas Luciene sabe bem a dor que
sentem os pais de alunos como Mateus Felipe Rocha Santos, com 5 anos
completados no último dia 27, que ontem não resistiu aos ferimentos e se tornou
a nona vítima infantil do incêndio ocorrido na quinta-feira.
A morte do menino foi confirmada
pelo setor de Assistência Social do Hospital João XXIII, para onde o paciente
tinha sido transferido no sábado, em estado grave. Além de Mateus e de outras
oito crianças, morreram uma professora e o próprio autor do massacre. O aumento
no número de óbitos se soma ao surgimento de mais pessoas demandando cuidados
médicos, já que as autoridades de saúde divulgaram a internação de mais dois
pacientes em estado grave, com problemas nas vias respiratórias, tornando o
massacre de Janaúba uma dor sem fim para vítimas e seus parentes. A diretoria
do Hospital Regional de Janaúba informou que um lavrador aposentado e uma
cantineira deram entrada no CTI da unidade na última sexta-feira e no domingo,
respectivamente, depois de terem ido para casa no dia da tragédia. Os dois
ajudaram no salvamento das vítimas.
A confirmação da morte de Mateus
deixou a mãe, Valdirene Santos, de 38 anos, e o pai, Valdemar Rocha, de 35,
arrasados. Hospedados em uma casa de apoio gerenciada pelo Serviço Voluntário
de Assistência Social (Servas) na Região da Pampulha, em BH, eles tinham a
esperança de que o filho conseguisse se recuperar. Os dois partiram ainda de
manhã para o Instituto Médico Legal (IML), no Bairro Gameleira, na capital,
acompanhados de uma tia do garoto. Fizeram os procedimentos de praxe para a
liberação do corpo e voltaram para Janaúba por volta do meio-dia, levados de
carro por um funcionário da prefeitura da cidade do Norte de Minas. Muito
consternados com a perda do garoto, eles evitaram dar declarações. Depois da
liberação, o corpo de Matheus partiu para Montes Claros, de onde depois
seguiria para Janaúba. A família sofre ainda com mais um parente internado. O
primo do menino, Nicolas Eduardo Freitas Borges, de 4, sofreu queimaduras nas vias
aéreas e segue internado no João XXIII.
Professora de oito das nove crianças
que morreram vítimas do ataque, a funcionária da Creche Gente Inocente Adrilene
Rodrigues também disse estar vivendo dias de muita dor. “Estou com uma enorme
tristeza, um vazio imenso, desde o dia da tragédia”, disse. Muito emocionada
com a notícia de mais uma perda, ela lamentou a morte do pequeno Matheus. “Ele
era um menino muito inteligente. Toda vez que eu contava uma historinha era o
primeiro a comentar. Era também uma criança muito alegre e gostava muito de
brincar com carrinhos”, lembra, com tristeza, dizendo que gostava muito do
pequeno. “No dia, eu fui até o hospital para tentar ajudá-lo. Fiquei triste,
porque ele estava muito grave e não pude fazer muita coisa”, lamentou.
Sobre o aniversário do garoto, no
último dia 27, Adrilene disse que a turma cantou parabéns para o menino e que
uma festinha estava sendo preparada para ele e para outros aniversariantes, nos
próximos dias. Adrilene trabalhava na centro infantil no turno da tarde e, por
isso, não estava no local no momento em que Damião ateou fogo às crianças.
(Fonte: jornal Estado de Minas e portal Uai)
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