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Dione Afonso
Últimos aplausos - Enterro da professora Heley Batista, tratada
como heroína, foi o que levou mais gente ao cemitério na tarde de sexta-feira.
JANAÚBA (por Márcia Vieira) – Um dia
após a tragédia de Janaúba moradores da cidade viveram a dor de sepultar as
vítimas. Das nove pessoas que morreram após o vigia Damião Soares dos Santos,
de 50 anos, atear fogo no corpo em uma sala de aula repleta de crianças, sete
foram sepultados nessa sexta-feira, dia 6 de outubro, em Janaúba.
Pela manhã, o enterro do menino Luiz
David Rodrigues, de 4 anos, levou centenas de pessoas ao cemitério Campo da
Paz. Uma delas foi a prima dele Luiza Mariana Rodrigues. Da relação com o
pequeno, ela se recorda de uma das frases mais usadas por ele: “tia, tira
foto”. Luiza sempre atendia ao pedido. Na véspera da tragédia, ela fez o último
registro do sobrinho e guarda com carinho no celular que ele gostava de mexer.
“Ele era uma criança muito alegre. Toda a família está arrasada”, diz.
No começo da tarde, foi a vez de
familiares e amigos se despedirem do menino Juan Pablo Cruz dos Santos, de 4
anos. Ele ganhou do pai um presente no dia que antecedeu a tragédia: um
violãozinho azul. Poucos minutos antes do sepultamento, Paulo Pereira, pai de
Juan, se sentou na cama de casal em que dormia com a esposa e o filho e
dedilhou as cordas do brinquedo. “Como é que vamos viver sem ele?”, perguntava.
Ao fechar o caixão, colocou o brinquedo junto ao corpo e chorou.
Gracilene Neves tem filhos gêmeos e
ambos estavam na creche na hora do atentado. Nenhum dos dois se feriu, mas ela
se comoveu diante da dor das outras mães. “Tenho muito que agradecer a Deus por
não ter acontecido nada a meus filhos, mas a gente não deixa de sentir pelas
outras famílias”, disse.
MATERNAL E FELIZ
Ao cair da tarde, o corpo de Heley
Abreu Batista, de 43 anos, foi levado pelo Corpo de Bombeiros em cortejo pelas
ruas da cidade, em um tratamento digno de uma heroína, já que ela conseguiu
retirar várias crianças da creche em chamas pela janela, antes de ter 100% do
corpo queimado. O marido, Luiz Carlos Batista, fez um breve discurso. “Fico
triste por nos despedirmos dela, mas sei que ela viveu como manda a lei de
Deus”, disse.
Em toda a cidade a personalidade
maternal e dedicada da professora era lembrada. “Ela era uma pessoa
maravilhosa. Dotada de virtudes e valores humanos como ninguém. Deu a vida pelo
próximo. Foi essa a missão dela aqui”, disse a amiga Luzinete Santos.
DISCRIÇÃO
Vanderley Nunes da Rocha, trabalha
em um restaurante da cidade conhecia pouco sobre o homem que vivia sempre
calado e parecia inocente aos olhos de quem via. “Eu conhecia ele da entrega de
sorvete. Sempre calado e quieto”, diz o funcionário do restaurante ainda sem
acreditar.
José Ferreira dos Santos que também
é vigia em uma empresa privada relatou que no momento da tragédia ajudou a
socorrer algumas crianças e ao falar sobre o autor do crime fica emocionado e
ao mesmo tempo irritado como tudo aconteceu. “Ele não cumprimentava ninguém.
Era muito esquisito e com certeza tinha algum problema”, diz muito revoltado.
(*) Colaborou Lucimery Lopes, sob
supervisão do editor. (Fonte: jornal O Norte)
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