“Sai de casa na manhã
dessa quinta-feira, dia 5 de outubro de 2017, com a missão de acompanhar e
propagar alguns eventos alusivos ao dia das crianças. Estaria na manhã e tarde
dessa quinta-feira em escolas da cidade e comunidade rural, e no dia seguinte,
pela manhã e à tarde, em outras escolas, todas em Nova Porteirinha. Iria fotografar
e filmar e ainda conversar e até brincar com crianças. Momento antes de
embarcar...aquele sorriso que esperava registrar mudou. A expressão de alegria
foi substituída por tristeza e na mente várias interrogações para tentar
entender da situação que acontecia: o incêndio numa creche que causou
fatalidade, dor, medo, desespero. O embarque não aconteceu. O meu destino,
juntamente com os colegas da Secretaria de Saúde e de outros órgãos de Nova
Porteirinha, foi levar ajuda (medicamentos e materiais de socorro) às vítimas
ora internadas no pronto socorro do Hospital Regional de Janaúba.
Essa triste realidade
originava de uma unidade escolar, a creche Gente Inocente, no bairro Rio Novo,
em Janaúba. No local, quatro crianças mortas em decorrência de queimaduras de
incêndio que, segundo a polícia, foi provocado por um vigia da própria creche. E
mais de 40 pessoas, a maioria crianças, tiveram que ser levadas para o pronto
socorro. Alunos e funcionários foram queimados no incêndio. Parte das vítimas
foi atendida e liberada – leves queimaduras ou inalação da fumaça. Mais tarde
algumas dessas vítimas retornaram ao hospital por não sentirem bem e outras
diante da recomendação médica. Mas, outras crianças e funcionários ficaram
internadas.
Até hoje, manhã de
domingo, dia 8 de outubro, estou
sem definição para essa situação...fui para o hospital Regional, lá dentro,
mais em missão de voluntário, vivenciando o drama e o esforço de cada um. Vi
algumas vítimas sendo atendidas, apesar de que aparentemente a situação era
menos dolorosa. Dessa vez a emoção tomou conta...não encontrava palavras para
escrever e dizer. No piscar dos olhos passa em minha frente volumes e mais
volumes de doações (medicamentos. água, roupas, materiais de higiene e
limpeza). Esse ato de solidariedade não parava. Seguiu pela manhã, tarde e nos
dias seguintes. Entre as doações, infelizmente, aumentavam a dor, o choro, a
triste informação de mais fatalidade e a necessidade de remover vítimas para
outras unidades diante da gravidade dos ferimentos, das queimaduras. Entre
tentar entender a situação surgia a angústia, o choro. Sim, chorei e ainda
choro. Meus sentimentos e meu choro às vítimas e suas famílias, principalmente
ao amigo Luiz Carlos Batista, o Carlinhos de Nova Porteirinha, que foi meu
colega de internato em colégio. Naquele boletim médico anunciado no meio da
tarde de quinta-feira vi mais ainda o sofrimento de Carlinhos diante do estado
clínico da sua esposa Heley. Quase sempre a via quando ia para o meu trabalho
na prefeitura ou na rádio, em Nova Porteirinha. Quanto sofrimento. Anos atrás
esse casal perdeu um filho, uma criança, afogada numa piscina...o Carlinhos, na
época do colégio internato, havia sofrido acidente de motocicleta que afetou um
das suas pernas. Amigo, Carlinhos tenha força. Imagino também o quão deverá ser doloroso para
as famílias dessas vítimas daqui pra frente. Para mim tem sido difícil
acompanhar esses fatos. Justamente no dia 5 de outubro de 2014, três anos
atrás, perdia um inesquecível amigo, irmão e colega jornalista (Luís Carlos
Novaes, o Peré). Choro. Sim, choro e sinto a dor das famílias das crianças e
dos funcionários da Creche Gente Inocente. Quase 20 anos atrás tive um
sobrinho, ainda criança, que ficou internado por causa de queimaduras. Diante
de um descuido, a água quente numa vasilha em fogão caiu nele atingindo-o em parte
do rosto e do corpo. Vi o pequeno sobrinho no hospital...com as graças de Deus
ele conseguiu se recuperar. Nesse momento, sentimos as dores das inocentes
crianças dessa unidade de ensino. Choro e ao mesmo tempo agradeço o empenho de
cada profissional da área de saúde, da assistência social, socorristas, outros profissionais
e inúmeros voluntários na ajuda instantânea e posteriormente ao triste fato. Eu
choro, você chora, todos choramos. Sim, deixe as lágrimas caírem...penso que
devemos proliferar a união em apoio às vítimas e às suas famílias e também
àqueles que, mesmo não sendo parentes das vítimas, mas que também sofrem.
Aceitemos qualquer tipo de ajuda, de apoio. Penso que o momento é deixar de
lado a adversidade (a paixão) seja no campo político e profissional. Penso que
o momento requer solidariedade, ação rápida e duradoura para salvar as vidas e
acolher os afetados, principalmente para cicatrizar as feridas. Penso também
que devemos acolher a família do funcionário que...acredito que essa família
também sofre com essa situação.
Penso que o momento é possibilitar
que as famílias das vítimas, e principalmente as crianças, possam, pelo menos, serem
assistidas e seguirem a vida.
Choro por ti...
Gente Inocente!”
(Oliveira Júnior, jornalista)
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