Foto Daniel Cristian
Suely Alves, catadora de
materiais recicláveis há quatro anos, percorre as ruas da cidade para
recolhimento dos resíduos.
PORTEIRINHA (por Daniel Cristian de Jesus Silva*) – A
mais nova na equipe é a catadora Patrícia Maria de Jesus, 34 anos, que estudou
até a sétima série. Casada e mãe de quatro filhos, a catadora relembra que o
início neste trabalho foi há dez anos e não acreditava que seria possível
extrair desse trabalho a renda necessária para o sustento da família. Hoje, ela
é associada da Ascarp e trabalha no galpão no processo de triagem do lixo
reciclável. “Sou muito feliz neste trabalho, que já realizo há tanto tempo. Não
pretendo sair dele. Hoje, é daqui que tiro toda a renda para o sustento da
minha família”, comenta.
Patrícia revela que a coleta seletiva não contribui
apenas com os rendimentos financeiros, mas, também com o reconhecimento como
uma profissional e com a segurança no manuseio dos materiais. “Antes éramos
tratados como animais. As pessoas não contribuíam com a gente e a coleta era
difícil, porque as pessoas misturavam todos os materiais. Muitos colegas, e até
mesmo eu, nos acidentávamos por muitas vezes com vidro. Hoje, somos tratados
como gente”, desabafa Patrícia. Trabalhando de segunda-feira a sexta-feira, ela
chega a ter uma renda de R$850,00 por mês.
De acordo com o Secretário Municipal de Meio Ambiente
e Turismo, o biólogo Elissandro Nunes de Brito, cerca de 14 (quatorze) mil
toneladas de lixo são produzidas todos os dias pelos porteirinhenses,
resultando, em média, 420 mil toneladas todos os meses (conforme dados do
estudo gravimétrico realizado pela empresa AMBTRI, em 2015). Com a atividade
dos catadores, em torno de 1 (uma) tonelada/dia são encaminhados para o galpão
da associação, contribuindo com a durabilidade do espaço do lixo convencional.
Por essa razão, a coleta seletiva se tornou uma alternativa de inúmeros
benefícios.
O secretário afirmou que no município os incentivos
acontecem de muitas formas. Na estrutura, disponibilizando um caminhão ou
trator para o transporte dos materiais recicláveis coletados, um galpão alugado,
com cozinha e banheiro, com pagamentos das despesas de água e luz consumidas.
Ações de conscientização da população da importância de separar e participar da
coleta compõe o plano de ação criado. Além disso, o Centro de Referência de
Assistência Social (CRAS), presta assistência a esses trabalhadores com a
doação de cestas básica mensais, uniformes e materiais de proteção. Os
trabalhadores ainda são inscritos no programa “Bolsa Reciclagem”, uma
iniciativa do Governo do Estado que, trimestralmente, disponibilizam R$11 mil a
associações mineiras.
Desta forma, os catadores começaram, em maio deste
ano, a expandir a área de coleta para mais três bairros da cidade. Segundo o
presidente Isaías, a expectativa é chegar a um novo bairro a cada dois meses,
até que o serviço cubra 100% da cidade e executado ainda nos distritos.
Atualmente, percebe-se, que o volume de matérias vem aumentando gradativamente,
e isso reflete na participação da população.
Maria Aparecida Santos, moradora da rua Américo Mendes
da Silva, no bairro Renascença, é uma das donas de casa que contribui com a
coleta seletiva. Em seu bairro, os catadores passam todas as segundas-feiras
pela manhã. Ela garante que o durante a semana anterior, o seu trabalho
doméstico passou a compor mais um item: a separação dos materiais. “Desde que
fiquei sabendo da implantação da coleta seletiva no meu bairro tratei logo de
contribuir. Aqui em casa, separamos o lixo reciclável do orgânico. É uma tarefa
simples, rápida e que facilita a vida dos catadores”, afirma.
Assim como a senhora Alzira, a jovem Patrícia e o
Isaías Maximiano, outros tantos catadores associados têm o emprego, o sustento
e a renda familiar graças ao consumo de outras famílias, que muitas das vezes,
ao depositarem os materiais recicláveis nos coletores, nem sabem do ato de
solidariedade e cidadania que exercitam. (*Estudante do 3º período de
Jornalismo, em Montes Claros)
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