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Barragem do Bico da Pedra, em Janaúba, na segunda-feira, dia 24 de agosto de
2015.
JANAÚBA (por Oliveira Júnior) – Meio metro de água a
menos no mês de agosto. Isso é o que ocorreu com o nível da barragem do Bico da
Pedra, em Janaúba, que no dia 26 último atingiu o ponto crítico quando não se
tem mais condições da água seguir para o rio Gorutuba por gravidade. São 13,9
metros abaixo do transbordamento uma das situações mais críticas desde quando a
represa entrou em funcionamento entre 1978/79 e quando houve o seu primeiro
transbordamento.
No ano de 2013, o nível de água na barragem do Bico da
Pedra ficou 14,15 metros abaixo do transbordamento. Só para se ter uma idéia da
redução, na segunda-feira, dia 31, o volume na represa gorutubana estava 4,35
metros mais baixo em relação a 31 de agosto do ano passado.
Em atividade há quase 40 anos, a barragem de Janaúba
atingia a sua capacidade na cota 553 metros e nesse último dia de agosto de
2015 a cota era 539,10 segundo levantamento diário do Distrito de Irrigação do
Gorutuba (DIG), responsável pelo controle do Projeto de Irrigação do Gorutuba,
na margem direita do rio de mesmo nome, na cidade de Nova Porteirinha –
separada da cidade de Janaúba justamente pelo rio.
Foto Oliveira Júnior
Situação da represa de Janaúba
em 2007, última vez que encheu e transbordou.
A represa, que é administrada pela Companhia de
Desenvolvimento do vale do São Francisco e Parnaíba (Codevasf), está perto de
alcançar o seu “volume morto”, situação adversa do que ocorreu em fevereiro de
2007, oito anos e meio, que foi a última vez que transbordou. “O volume morto
da barragem Bico da Pedra está na cota 535,00, a partir dessa cota, somente
para consumo humano”, cita Ricardo Carreiro, gerente executivo do DIG.
Nessa segunda-feira, 31 de agosto, a cota na barragem
gorutubana era 539,10, ou seja, 4,10 metros acima do “morto”. Dessa feita, a
cota 535,00 é a que oficialmente representa a cota do “volume morto”, ou seja,
é a cota que todas as captações, com exceção da Copasa (abastecimento para a
população), são interrompidas por completo de forma a garantir a segurança do
abastecimento humano.
BOMBEAMENTO COMEÇOU ANTES
Iniciou no dia 20 de julho deste ano, na cota 539,90,
o bombeamento de água da barragem Bico da Pedra para irrigação, que abastece o
canal principal do Projeto Gorutuba, atendendo aos irrigantes do perímetro do
Gorutuba e a Copasa de Nova Porteirinha. O canal principal do projeto Gorutuba
tem início na cota 539,20, cota esta que a captação de água é completamente
interrompida por gravidade.
Foto internet
Represa no rio Gorutuba está em
funcionamento há 36 anos e fica perto do nível mais baixo da sua história.
“Como acontece em nossas residências, conforme vai
baixando o nível na caixa d’água a vazão máxima nas torneiras diminuem
gradativamente até chegar a zero quando a caixa d’água fica completamente vazia
ou com o nível abaixo do nível da torneira, assim também ocorre na captação do
DIG (“torneira”) na barragem (caixa d’água) em que apesar da cota, em julho,
não ter chegado a 539,20 foi necessário iniciar o bombeamento, tendo em vista
que a vazão captada por gravidade era inferior à necessidade do DIG e acordado
em alocação negociada de águas, supervisionada pela Agência Nacional de Águas
(ANA)”, informou Ricardo Carreiro.
ÁGUA ATÉ NOVEMBRO DO ANO QUE VEM
As comportas da galeria de tomada d’água na barragem
do Bico da Pedra, que servem para captação de água não só do perímetro de
irrigação Gorutuba como também para a Copasa (abastecimento humano) e para o
rio Gorutuba, onde são atendidos os usuários do rio, dentre eles os irrigantes
da margem esquerda, Janaúba (Assieg), estão localizadas na cota 535,00.
O gerente executivo do DIG informou que os usuários,
principalmente os perímetros de irrigação Gorutuba e Lagoa Grande (margem
esquerda), bem como a indústria de polpa de tomate e o frigorífico, segundo os
cenários estudados, tem fornecimento de água possivelmente garantido até
novembro de 2016, isso se não houver alteração no uso.
Lago do rio Gorutuba próximo à barragem
do Bico da Pedra, entre Janaúba e Nova Porteirinha, em agosto de 2015.
Segundo Carrero, o cenário de interrupção do
fornecimento de água a esses usuários, apesar do abastecimento humano continuar
recebendo água, é catastrófico, uma vez que toda economia regional depende das
atividades desses usuários de água, ou seja, desde o comércio de Janaúba,
postos de combustíveis, diaristas, faxineiras, lavadeiras de roupas, etc,
sofrerão seriamente com essa interrupção. Isso consequentemente aumentará o
desemprego, a pobreza e a criminalidade em Janaúba e região.
RACIONAMENTO E ÁGUA PARA O POVO
Ricardo Carrero informa que no início deste segundo semestre
o cenário aponta que a Copasa, ou seja, o abastecimento humano das cidades de
Janaúba e de Nova Porteirinha – juntas, são mais de 80 mil pessoas – possui boa
segurança com garantia de água para alguns anos. “O momento hídrico que
atravessamos é muito sério e exige ações sérias e responsáveis por parte dos
governos federal e estadual, dos produtores e de toda a população de Janaúba e
Nova Porteirinha”, ressalta o dirigente.
Ele explica o comprometimento por parte dos usuários
pelo uso racional. “ Os produtores rurais estão se esforçando e se
sacrificando, já entendendo que ‘antes ter um pássaro na mão do que dois voando’,
uma vez que vivencia um racionamento de 61%. O produtor rural é grande
interessado que o sistema não entre em colapso”, cita Ricardo Carrero ao
acrescentar que o colapso significa interrupção da atividade da agricultura
irrigada, que é a fonte de renda.
Há quatro anos, o DIG juntamente com os irrigantes adotam medidas de contenção com relação a redução do volume de água
na barragem em virtude da seca que assola a região nos últimos anos. A
liberação de água para a irrigação tem sido gradativamente diminuída e,
atualmente, ocorre em apenas dois dias da semana. O governo federal deu início
a principal ação que é a modernização da infraestrutura do perímetro de
irrigação Gorutuba, conhecida como obra da tubulação, contudo foi interrompida
por falta de pagamento. Para Ricardo Carrero, a participação da população se
torna crucial neste momento, uma vez que a mesma será a que mais sofrerá as
consequências de um possível colapso.
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