JANAÚBA
(por Oliveira Júnior) – “Quando é noite os ventos, "Alice", sussurram.
E meus lábios gelados, "Alice", murmuram”. E mais, “Veja morena que
belo arco-íris, bebendo água no meio do rio. Chuva estiada festival de cores, beleza
igual aqui nunca se viu”. Com certeza quem estiver na rua Francisco Sá com a
rua Inhumas e nas proximidades na noite desta sexta-feira, dia 15 de maio,
poderá ouvir as expressões acima.
Primeira estrofe é de autoria do cantor e compositor
gorutubano Cícero Alves Pereira, o Cição Billy Alves, de Janaúba. Segunda
estrofe é do cantor e compositor Pedro Raimundo dos Reis, o Pedro Boi, que é de
Ibiracatu, aqui no Norte de Minas. E esses dois artistas estarão hoje, a partir
de 21h, no restaurante Espeto & Companhia, aqui em Janaúba, se apresentando
juntamente.
De acordo com Lenisson Túlio Xavier, diretor do Espeto
& Companhia, a junção de Cição e Pedro Boi nesse show é oportunizar a
valorização tanto da música regional quanto das canções brasileiras muito bem
apresentadas pelos artistas. “Pedro Boi e Cição têm uma grande e invejável
“bagagem” musical que é apreciada pelo público do Norte de Minas e de outras
regiões do país”, justificou Lenisson Xavier.
Na noite de hoje não faltarão no repertório duas
tradicionais músicas de Pedro Boi: Zumbi e a Lenda do Arco Íris. Pedro também
fez parte do grupo musical Agreste que tinha vários artistas do Norte de Minas
e dentre as canções gravadas estão “Jaíba” e “Cachoeirinha”.
No caso da música “Jaíba”, Pedro Boi e os colegas do
grupo Agreste retrataram os fatos lamentáveis que os camponeses sofreram na
região. Na música “Cachoeirinha”, o Agreste, com Pedro Boi, também mostrou
através da canção sobre o sofrimento dos camponeses para salvar suas terras.
Cachoeirinha virou cidade, hoje denominada de Verdelândia.
Cícero Alves, o Cição Billy Alves, deverá incluir no
show desta noite dois sucessos que marcam a sua carreira: “Alice e as Estrada
de Pedras” e “Cantiga do Sofrê”, destacado em festival de música promovido pela
TV Globo através da afiliada regional, a InterTv Grande Minas. Com inspiração
no cantor e compositor Raul Seixas (já falecido), Cição aproveita as suas
canções para relatar sobre a vida regional e também protestar com as injustiças.
Ele ainda segue no ritmo poético, assim como não deixa o público quieto.
CONFIRA AS LETRAS DE ALGUMAS MÚSICAS DE CIÇÃO BILLY
ALVES E PEDRO BOI
ALICE E A ESTRADA DE PEDRAS
Cição Billy Alves
Quando é noite os ventos, "Alice",
sussurram.
E meus lábios gelados, "Alice",
murmuram.
Mas Alice, de tão longe, não me ouve mais...
Eu te disse tanto, eu disse Alice,
Na noite em que partias!...
Que havia uma estrada cravada de pedras vadias,
Que brincam com almas ingênuas...
Até que empedram almas ingênuas.
Pobra Alice, perdeste-te nas estradas de pedras...
Que mal!
E tu'alma esta mórbida, Alice!...
Alice transformou- se em cristal!
Alice transformou-se em cristal,
em cristal!
***
CANTIGA DO SOFRÊ
Cição Billy Alves
Ah! sofrê, se ocê ficasse
Só um tiquim mais a cantar
Nas gáia do imbuzêro,
Todo prosa a zaranzar,
Bem juntim da minha rede
E nós mais causos contar
Mas ocê cumo é liberto,
Forgazão e vagabundo,
Mal se dispede de mim,
Vai cantar pra ôtos mundo
Ah! sofrê, é que ocê sabe
Que eu priciso trabaiá,
Que a vida do bicho-home
Num é assim só vadiá
Mas lembremo que o imbuzero
Gosta de nos iscuitá
E ocê cumo é liberto
Forgazão e vagabuno,
Mal se dispede de mim
Vai cantar pra ôtos mundo
Vai, vôa, sofrê,
E vorte quando quiser
Sua liberdade tá na asa,
E a minha tá no pé
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A LENDA DO ARCO- ÍRIS
Pedro Boi
Veja morena que belo arco-íris
Bebendo água no meio do rio
Chuva estiada festival de cores
Beleza igual aqui nunca se viu.
Oi canoeiro, não saia pra pesca
Não enfrente o rio.
Conta a lenda que virou mulher
Todo pescador que ele engoliu.
O São Francisco é sua morada
Caboclo d'água foi quem descobriu
Quando eu morrer
Me enterre numa cova rasa
Bem no meio dessa mata
Lá na curva desse rio.
***
ZUMBI
Pedro Boi
No sacolejo do navio
Que cheguei aqui
Meio vivo, meio morto
Foi o que eu senti
O meu corpo lá jogado
Na beira do porto
Meio vivo, meio morto
Mas não desisti
Pois quem nasceu
Pra ser guerreiro
Não aceita cativeiro
Por isso eu decidi
Enquanto o eco dos tambores
Ressoa nos ares
Correndo na mata virgem
Vou fundar palmares.
A sua chibata
Por mais que me bata
O meu corpo maltrata
Eu vou resistir
A sua chibata
Por mais que me bata
Se não me mata
Eu torno a fugir
Ô nego, olê
Olê, Zumbi
Ô nego olê
Capitão do mato vem aí.
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