Foto Oliveira Júnior
Luís Carlos
Novaes, o Peré. Nasceu em 25 de dezembro de 1953. Jornalista, radialista e
escritor. Atuou em jornais, rádios e assessorias de imprensa em Montes Claros e
em janaúba, além de prestar serviço em outros municípios e para órgãos do
governo do Estado.
Luís Peré morreu na tarde de ontem, domingo, dia 5 de outubro, no hospital.
O
corpo dele é velado na Câmara Municipal de Montes Claros. O
sepultamento do jornalista Luís Carlos Novaes, o Peré, está previsto
para ás 17h desta segunda-feira, dia 6 de outubro, em Montes Claros.
Foto Vagner Oliva
Luís Carlos Novaes com Oliveira Júnior e, ao
fundo, Porretinha.
“Quis ficar sentado para poder ver a barriga
dos meninos...que estão com cabelos brancos”. Essa foi uma das últimas frases
que ouvi do amigo, irmão e colega jornalista Luís Carlos Vieira Novaes, o Peré,
na visita que fizemos a ele na sexta-feira, dia 3 de outubro, na residência
dele. Abatido e com dores no corpo, Luís Carlos Novaes pediu à esposa e
companheira de longa data Maria Inês Sobrinho que o levantasse diante da visita
que recebia naquele momento: os jornalistas Oliveira Júnior, Fernando Lucas e Arnaldo
Pereira, todos de Janaúba, que foram acompanhados do amigo e advogado Fabiano
Parrela e com o apoio de Éder, do Jornal de Notícias.
Arquivo de Oliveira Júnior
Nilton Santos, Reinaldo Silva, Nelinho, Luís
Peré, Osvaldo, Pitchu, Oliveira Júnior, Eliane Silva, Maurício, Ferrugem e
Carlos Ronaldo: em Janaúba, no início dos anos 90.
Mesmo naquela
situação enferma que a gente procura não ficar, Luís Peré foi muito atencioso
com a nossa visita. Com dificuldade para falar, ele me chamou e perguntou:
“Oliveirinha como você está?”. Diante do amigo e colega Peré respondi que
graças a Deus estava bem. Não tive força para dizer a verdade. Mas, acredito
que o inesquecível amigo pôde imaginar que eu estaria triste diante do seu
estado. Em pouco tempo, mas precioso e marcante momento, relembramos fatos que
resumiam a importância da nossa convivência de Peré e familiares: a água do rio
Gorutuba que faz com que quem a beba fique ou mantenha “raízes” com Janaúba.
Luís Peré até lembrou as feijoadas feitas pelo colega Arnaldo Pereira,
inclusive a última que degustamos neste ano, na casa de Arnaldo, que também
teria sido a última visita de Peré à Janaúba. Ele teria vindo para o
aniversário da neta e, no dia seguinte, nos encontramos. Naquele momento ele me
entregou dois presentes: mais uma edição da revista Tuia com o Cd do grupo
Agreste, e uma camisa “dos meninos de Tuia”. Entre o arroz com pequi, feijoada
e rabada, citamos vários causos.
Foto Paulo & Galego
Luís Peré, Téo Azevedo e Oliveira Júnior.
1986 foi o ano
que conheci o Luís Carlos Novaes, o Peré. Ele então com 32 anos e eu com os
meus 19 anos. Junho daquele ano eu entrava para o time da rádio Gorutubana AM,
em Janaúba, que tinha o Peré na coordenação artística e no jornalismo. Fui
contratado para a função de operador de áudio do estúdio principal. Mas, sei lá
por qual motivo quis o amigo Peré que eu também fizesse parte do jornalismo da
rádio.
Foto Oliveira Júnior
Luís Peré
conversando com Jota Dias e dentro do carro, Luisão e Porretinha, atrás.
Em pouco tempo estava eu lá na condição de editor adjunto do jornalismo
da emissora para, que privilégio, substituir o Peré. Na verdade, ele queria
isso. Pois, precisa de folga para dá sequência a outros projetos, caso da
Assessoria de Comunicação e Lazer da Prefeitura de Janaúba, no período de 1989
a 92. E também escrever e editar jornais em Janaúba, caso de O Jornal de
Janaúba, Jornal Gorutuba e O Jornal, que ele instituiu de Janaúba. Ele me levou
também para os jornais.
Foto Inês Sobrinho
Cláudio Pereira, Arnaldo Pereira, Luís Peré,
Cláudio Rocha e Oliveira Júnior: abril de 2014.
Na eleição de 1992 (Peré falece 22 anos depois,
em dia de eleição), no dia da votação, fugimos para Montes Claros. É que
naquela ocasião a rádio Gorutubana estava com o sinal lacrado pela Justiça
Eleitoral. Mas, por teimosia, Peré foi e colocar a emissora no ar novamente e
daí veio a Juíza Eleitoral para fechar, de novo, a rádio e possivelmente
prender o responsável. Escapamos. Eu e Peré fretamos um táxi e partimos para
Montes Claros, onde ficamos refugiados por uma semana. Durante o dia ficava num
escritório no centro e à noite íamos para a casa da mãe do colega. Os nossos
candidatos a prefeito e vice perderam a eleição. A fuga nos livrou da zueira,
já que a turma vencedora simbolizando a taca saiu às ruas com um chicote.
Foto arquivo Oliveira Júnior
Luís Peré, de
costa, comemorando o aniversário de Oliveira Júnior, na rádio Gorutubana.
Mas, antes
disso, a partir de dezembro de 1987, sugerido por Peré, saí às ruas com um
gravador pesquisando com os eleitores em Janaúba quem poderia ser o candidato a
prefeito em 1988. A resposta dos eleitores eram gravadas e lançadas no rádio.
Oito meses depois o resultado nas urnas confirmou essa pesquisa.
Ah, Peré. Quanta
saudade você nos fará, meu irmão. Você nos cativou com a irreverência, caso do programete
“Os Degas”, na rádio. Os textos elaborados por você Peré (Degas mais novo) com
o meu (Degas mais novinho) auxílio e narrado pelo amigo e colega Raul Luis Dond
(Degas mais velho).
Foto Paulo & Galego
Luís Peré com
Fernando Lucas.
Depois veio a “Fátima
Moura Imperial” (FMI), contrapondo ao Fundo Monetário Internacional. A
gorutubana “Fátima Moura Imperial” deixou a imprensa de Janaúba e foi na bolsa
de Peré para a imprensa de Montes Claros, ultimamente no Jornal de Notícias.
E o “bicho da
barragem” e o “cavalo azul” são fatos marcantes. Na cobertura da morte do então
prefeito Joaquim Maurício lá vamos nós, eu e você, preparar um documentário.
Fizemos os ouvintes chorar. Até nós, inclusive o particular amigo que narrou o
comentário com as lágrimas descendo pelo rosto. Descobrimos que o sonho de
Joaquim, quando criança, era ter um cavalo azul...e o avô dele deu um jeito e
mandou pintar o cavalo. O nosso relato, Peré, ganhou repercussão e até foi
adaptado tempo depois numa exposição agropecuária local. Quanto ao “bicho da
barragem”...você se foi, mas conseguimos colocar esse fato na história de
Janaúba. Fui designado por você para saber desse caso e... mais uma reportagem
de repercussão não somente municipal, mas no estado. Causo ou lenda, o certo é
que incrementamos a história de Janaúba. Essa nossa reportagem do “bicho da
barragem” virou até bloco e enredo de carnaval na cidade janaubense.
Moço, são tantos
fatos. Aliás, boa parte deles têm sido narrados por você nas intermináveis
crônicas publicadas. Algumas vezes você me perguntava ou telefonava em busca de
dados para, justamente, compor essas narrativas das terras gorutubanas que você
adorava muito.
Com ou sem
censura, lá estava o Peré escrevendo ou falando nos meios de comunicação de
Janaúba. No meu ponto de vista, você revolucionou a comunicação local. Através
da sua coordenação, foi promovido o primeiro debate entre candidatos a deputado
estadual, em 1990, em Janaúba, com transmissão pela rádio Gorutubana. Isso sem
contar as coberturas das eleições que durava até quatro dias para apurar os
votos, já que a votação era manual. E o carnaval “40 Graus” na praia Copo Sujo.
Êta saudade. Tinha o concurso da rainha do Carnaval e até, por idéia sua, a
escolha da “Piranha do Copo Sujo”, homens com trajes femininos numa alusão à
praia Copo Sujo.
Foto Vitória Novaes
Luís Peré e Oliveira Júnior analisando a revista
Tuia.
Peré, você nos
trouxe diversão, alegria e cultura. Você organizava e realizava em Janaúba
shows musicais com artistas regionais, estaduais e até nacionais. Além do
festival da canção popular e do projeto “Música no Bar” em que cada semana
levava os artistas locais para os bares e bairros de Janaúba. Por falar em
shows, não me sai da memória o erro que cometi lá em Manga. Durante um evento
festivo que contou com o show do cantor, compositor e humorista Saulo
Laranjeira (deputado João Plenário na “A Praça é Nossa” no SBT). Mais tarde,
cheguei a um restaurante na beira do rio, em Manga, e dei um tapa nas costas de
Saulo Laranjeira pensando que seria o Peré que estava de frente ao humorista. Confundi
Saulo com Peré, uma vez que ambos estavam fisionomia e traje quase idêntico.
Fui traído pela visão embaçada. Bom, a cena serviu para aumentar mais ainda a
agradável prosa na margem do rio São Francisco, 20 e tanto anos atrás.
Meu amigo, irmão
e colega Peré muito obrigado pelo ensinamento e convivência. Rapaz, lembrei
neste exato momento as idas e vindas à sua casa onde era bem recebido pela sua
mãe, dona Maria, e pelo seu pai, “seu” Novaes que mantinha num quarto especial
dezenas e mais dezenas de aguardente envelhecidas. A adega do seu pai era de
causar inveja e servia até de pauta para reportagens. E a prosa com a sua irmã
Zelita.
Bianca e Morena,
suas filhas com Valquíria Braga. Depois veio Brisa, sua filha com a janaubense
Eliane Silva. E mais recente, Vitória e Júnior, seus filhos com Inês. Essa é a
sua adorável família. Isso sem esquecer do amigo e colega Edvaldo Pinheiro, o
Porretinha, filho de “seu” Escolástico, mas considerado por nós, como sendo o seu
inseparável e fiel amigo e filho. Falar de Porretinha sem falar de Peré e
vice-versa não tem sentido.
Á Bianca,
Morena, Brisa, Vitória e Júnior muito obrigado por compartilhar com a gente o
jeito afetivo e sábio do amável Luís Carlos Novaes, o Peré.
Morena, minha
colega na Faculdade de Jornalismo e que há alguns anos mora no Japão, não pôde
acompanhar in loco os últimos momentos do pai que nos despediu justamente neste
dia 5 de outubro, data de aniversário natalício de Morena. Dizer para Morena
parabéns nesse dia da despedida do pai não sei se teria sido conveniente. Mas,
podemos dizer: “Morena e irmãos, parabéns pelo exemplar pai Peré”.
Fevereiro de
2013, na solenidade Troféu Imprensa do Norte de Minas, reencontrei com o amigo
Peré. Fomos agraciados com a premiação. Ele sempre foi o meu grande
incentivador. Dezembro de 2013, no Encontro da Imprensa do Norte de Minas,
novamente tive com o Peré. Ele e mais quatro colegas foram homenageados. Tempo
depois numa mesa perguntei ao Luís Carlos o que ele havia pronunciado (que não
escutei) quando recebia aquela homenagens. “Oliveirinha, você veio. Muito
obrigado”, respondeu Luís Perereca. Na semana que antecedia a Semana Santa,
neste ano, Peré veio a Janaúba e fez questão de me encontrar. Reencontramos.
Aqui estou,
nesta manhã de segunda-feira, dia 6 de outubro, algumas horas após o
falecimento do amigo tentando encontrar força para a última despedida. Confesso
que a decisão seja em não ir. Prefiro ficar com a mais recente imagem de Peré
na minha memória...a imagem da visita que o fiz na sexta-feira, dia 3 de
outubro, na casa dele. Onde conversamos, olhamos e lhe dei lhe um beijo no
rosto não de despedida, mas de gratidão por tudo aquilo que ele nos
proporcionou na vida profissional e na amizade jamais abalável.
O Sapo na Muda
está mudo. O Degas mais novo foi descansar. Peré sempre será Peré.
Valeu amigo,
Luís Carlos Vieira Novaes, o nosso colega e irmão Peré.
Vá com Deus,
Peré!
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