* por
Dirceu Colares
A
possível entrada da banana equatoriana no Brasil é uma realidade que tem
preocupado todos os envolvidos na cadeia produtiva da fruticultura do
país. Toda essa discussão começou quando
o Governo do Equador tentou introduzir no mercado brasileiro a banana. Esta
fruta é o segundo produto da pauta das exportações equatorianas, com receita de
US$ 2,1 bilhões no ano passado, superada apenas pelos US$ 13,8 bilhões obtidos
com as vendas externas de petróleo que é a segunda fonte de economia deste
país.
O
objetivo do Equador com a conquista do mercado brasileiro é recuperar market
share para continuar escoando a fruta, uma vez que desde a Primavera Árabe –
onda revolucionária de manifestações e protestos que vêm ocorrendo no Oriente
Médio e no Norte da África desde 18 de dezembro de 2010 – o país perdeu espaço
e dinheiro deixando de comercializar a fruta para os países árabes e teve suas
cargas represadas no país importador.
A
tentativa de entrar com a fruta em mercados europeus não foi bem sucedida uma
vez que a Europa está em crise. O baixo consumo de frutas, tanto entre os
europeus quanto americanos, direcionou o Equador a estabelecer como estratégia
comercial a venda de bananas no Brasil. Essa tentativa traz a tona uma forte
preocupação entre produtores e comerciantes da fruta por motivos que aqui se justificam.
Com
a entrada desta fruta no mercado brasileiro, diversos problemas serão
recorrentes para quem produz e para quem consome. Dentre eles podemos citar:
1. Queda do preço da fruta. O Equador possui
mão de obra extremamente barata, cerca de um terço do custo praticado no
Brasil, e isso possibilita a produção da fruta e venda com preço bem mais baixo
do que o estabelecido no mercado brasileiro, ocasionando instabilidade no
comércio fruticultor;
2. Menor custo de produção: adubos, energia
elétrica e defensivos agrícolas custam menos no Equador. Além destes itens
nossas estradas e portos são precários quando comparados à logística
equatoriana, o que interfere diretamente na comercialização da fruta;
3. Problemas fitossanitários: O Equador
possui alta umidade sendo necessária a utilização de 10 vezes mais de
defensivos químicos do que em importantes regiões produtoras brasileiras, como
por exemplo, no Norte de Minas Gerais. Já o Brasil possui frutas de qualidade
sem a intensa utilização destes defensivos que tanto prejudicam o meio
ambiente, a saúde do trabalhador e do consumidor.
Além
destes agravantes, a Associação Brasileira de Comércio Exterior prevê uma queda
de 5% nas exportações em 2013, que deverão atingir U$230,511 bilhões comparados
com U$242,580 bilhões em 2012, um déficit comercial de U$42,008 bilhões este
ano. O presidente da AEB, José Augusto de Castro, esclareceu que o principal
produto que levou à alteração das projeções foi o petróleo, em função da queda
da produção interna.
Segundo
comentários de bastidores, a questão da abertura do mercado para a banana
equatoriana estaria relacionada às negociações para a entrada do país no
MERCOSUL, além de contribuir para atenuar a diferença no comércio bilateral,
que é altamente favorável ao Brasil. No ano passado, o Equador exportou para o
mercado brasileiro US$ 133 milhões e importou US$ 898,5 milhões.
Portanto,
torna-se evidente, mais uma vez que o governo brasileiro tenta usar a
agricultura como moeda de troca nas negociações internacionais, desrespeitando
a cadeia produtiva de fruticultura nacional que tanto tem investido recursos
consideráveis na melhoria de seus produtos, como a racionalização do uso da
água, utilização de produtos biológicos, monitoramento integrado de pragas e
doenças, certificações, entre outras modernas práticas desenvolvidas pela
EMBRAPA e valorizadas pelo consumidor brasileiro.
A
estes aspectos deve-se levar em consideração a grande oscilação dos preços
praticados no mercado interno. A banana NANICA, que é a mesma produzida no
Equador, oscilou de janeiro a julho de R$ 0,60 a R$ 0,20 o preço pago ao
produtor, com tendência de mais baixas para o segundo semestre, como acontece
todos os anos em função de inúmeros fatores.
As
estatísticas da organização das nações unidas para agricultura e alimentação
(FAO) apontam o Brasil em quarto lugar entre os maiores produtores de banana,
com 7,3 milhões de toneladas, atrás da Índia (29,6 milhões de toneladas), China
(10,7 milhões de toneladas), Filipinas (9,1 milhões de toneladas) e Equador
(7,4 milhões de toneladas). Enquanto o Equador exporta 5 milhões de toneladas,
as vendas externas brasileiras de banana somam pouco mais de 100 mil toneladas.
*
Presidente da CONABAN - Confederação Nacional dos Bananicultores – e ex-presidente
da ABANORTE – Associação dos Fruticultores do Norte de Minas.
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