PORTEIRINHA
(por Helen Borborema) – Quem lida com a terra dia a dia com atenção e respeito
ao meio ambiente, vai aprendendo as particularidades da natureza. Mas quem
segue e procura aprender esse conhecimento construído por essas pessoas durante
muitos anos, tem a graça de utilizar-se da sabedoria da cultura popular.
Agricultores e agricultoras sertanejas sabem bem o que é isso, pois são muitas
as práticas que são passadas de geração em geração.
Uma
delas é a chamada Sorte São João, que auxilia o/a agricultor/a a conhecer como
será o tempo das águas na sua região. No Semiárido mineiro, as chuvas começam
no final do ano, e terminam no início do ano seguinte. Segundo seu Ildeu José
da Costa, da comunidade Morro Grande, município de Riacho dos Machados, é muito
importante conhecer como será o tempo de chuva, pois é mais fácil para planejar
a preparação da terra e o plantio. Segundo ele, é só prestar atenção na
natureza que ela mesma já vai dando as dicas, como na Sorte São João.
No
dia de São João, 24 de junho, muitos/as agricultores/as familiares, além de
preparar as fogueiras para comemorar as festividades do Santo e agradecer o céu
pela safra, prestam atenção no tempo desses dias posteriores que segundo eles,
trazem manifestações de como serão as águas desse ano.
De
acordo com Umbelina Antunes de Oliveira, mais conhecida como Dona Belinha, da
comunidade Tanque, em Porteirinha, o dia 24 de junho representa o mês de
outubro, sendo a manhã a primeira quinzena e a tarde a segunda quinzena. E
assim sucessivamente: o dia 25 representa novembro, 26, dezembro, 27, janeiro,
28, fevereiro e até 29, dia de São Pedro, que representa o mês de março.
Se
na parte da manhã ficar nublado, com calor de chuva, ou com ventos na direção
de quando chove, é porque vai chover nessa época. Do mesmo modo na parte da tarde
que representa a segunda quinzena do mês. Mas quando abre o sol forte, sem
vento correndo, como que se faz quando vai chover, aí é porque na época
correspondente vai fazer sol forte.
Normalmente
no Semiárido mineiro, chove só entre três e quatro meses no ano, porém, como a
chuva acontece de forma espaçada, essa prática pode ser contemplada em qualquer
um desses seis meses.
EFEITO
ESTUFA E MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Dona
Belinha conta que aprendeu essa prática com os antig os, e que sempre dava
certo, porém, hoje com o passar dos anos, “parece que o tempo está todo
mudado”.Ildeu acredita que o tempo está diferente e a natureza ficando desequilibrada
por causa das mudanças climáticas. “O homem está destruindo muito a mãe
natureza e com isso esta mudando o ciclo e o equilíbrio que tinha. Tem muitas
coisas que a gente sempre teve sabedoria, e agora não estamos entendendo quase
nada”, afirma o agricultor. Mesmo
assim, Ildeu e Dona Belinha acreditam que é importante passar para os
costumes dos mais velhos para os mais novos, pois além de valorizarem a
sabedoria popular e a cultura, esses conhecimentos podem ajudar na preservação
da natureza. (Fonte:http://www.asabrasil.org.br/Portal/Informacoes.asp?COD_NOTICIA=6063)
NOTA: Reportagem realizada em 2010. A jornalista Hélen Borborema é nora de Dona Belinha (in memorian)
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