JANAÚBA
(por Oliveira Júnior*) – Em julho de 2002 a TV Record exibiu num dos seus noticiários
em rede nacional uma reportagem sobre Janaúba em que apontava a cidade como a
capital brasileira das bicicletas, que é um veículo com duas rodas presas a um
quadro, movido pelo esforço do próprio usuário (ciclista) através de pedais.
Essa constatação foi por ocasião do Rally Internacional dos Sertões que reuniu,
em Janaúba, diversos pilotos (inclusive o campeão mundial de Fórmula 1, Emerson
Fittipaldi) e motoristas brasileiros e estrangeiros e ainda especialistas em
provas de aventuras envolvendo motocicletas, carros, caminhões, jipes.
Dez anos atrás essa competição foi de Goiânia-GO a
Fortaleza-CE, passando por Diamantina, Janaúba, Jaíba, Manga e pelo Nordeste
brasileiro. O Jornalismo da Record confirmou o que era e ainda é evidente, a
bicicleta é o meio de locomoção mais usado nesta cidade. A explicação lógica é
com base no fator da cidade ser plana e o valor econômico do ciclo movido
manualmente. Não há um número exato de bicicletas existentes em Janaúba. Mas,
pelo movimento nas ruas há de se imaginar que cada morador tenha a sua própria bicicleta.
É comum que algum janaubense seja proprietário de um automóvel, de uma
motocicleta e até de uma bicicleta. Isso ocorre em conformidade com o grau da
mobilidade urbana e também do local onde mora com relação a distância entre o
centro comercial e o ambiente de trabalho. O preço médio da bicicleta é R$
350,00 o correspondente entre 5% e 6% do valor médio de uma motocicleta e até
2% do quanto custa um carro, cotação de R$ 30 mil.
O município de Janaúba possui 68 mil habitantes,
segundo dados do Censo 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Essa população está distribuída em 18 mil imóveis
habitáveis, média de quase quatro pessoas por residência. A estimativa é de que
em cada casa existam, pelo menos, duas bicicletas. Isso implicar em dizer que
na cidade há entre 30 mil e 40 mil bicicletas, quase o dobro da quantidade de
automóveis e motocicletas.
Por mais que haja essa predominância do veículo de
manuseio manual, a cidade de Janaúba é carente no que diz respeito a ciclovia –
espaço em via pública destinado para o trânsito de bicicletas. A (revista) MAIS
apurou que há apenas três vias, todas essas avenidas, adaptadas com pista para
os ciclistas. A primeira e mais extensa é a ciclovia da avenida Manoel Atayde,
com extensão de 2,9 quilômetros, da praça do Cristo Redentor até o trevo do
DER-MG (BR-122). Ela foi construída em 1982 juntamente com a avenida numa época
áurea da vendagem de bicicletas. A cultura do algodão era a base da economia do
município e região. Na cidade existiam duas lojas revendedoras de bicicletas e
numa delas teve período de concretizar a venda de até hum mil bicicletas por
mês, média de 30 bicicletas por dia. A maior parte ficava em Janaúba. As demais
seguiam para as cidades e comunidades rurais de Porteirinha e Mato Verde, que
eram os principais plantadores de algodão. Esse ritmo, apesar de ter sido em quantidade
modesta, foi acompanhado pelas revendedoras de motocicletas.
A segunda ciclovia, numa extensão aproximada de dois
quilômetros, foi implantada na avenida Gentil Dias entre os bairros Rio Novo e
Barbosa. Isso ocorreu há 10 anos. A terceira e última via para o trânsito de
bicicleta foi construída há quase 5 anos na avenida do Comércio, no centro, com
extensão de 900 metros. Além da ciclovia, a avenida do Comércio conta com o
bicicletário, que é estacionamento ao longo da via que ainda possui área para
estacionar motocicletas e carros.
Se 30 anos atrás ocorria a compra de até 30 bicicletas
diariamente, a cidade de Janaúba registra outro fato inédito, porém negativo. É
que, segundo relatório do 51º Batalhão da Polícia Militar de Janaúba, por ano
há registros de furto e roubo de quase 400 bicicletas em Janaúba, média de uma
por dia.
Conforme o Departamento Nacional de Trânsito
(Denatran), o município de Janaúba possui a frota de 23.409 veículos, sendo
13.610 motocicletas/motonetas (58%) e 6.523 automóveis (27,86%). Esses dados
são de julho de 2012 e representam um crescimento de 10,85% em relação ao mesmo
período do ano passado. O número de automóveis em Janaúba cresceu 12,25% entre
julho de 2011 e julho deste ano. São 712 carros a mais, média de dois veículos
(novos ou usados) por dia. O incremento de motocicletas/motonetas no município
foi de 10,06% nos últimos 12 meses. Em julho do ano passado havia em Janaúba
12.365 veículos desse tipo. A frota subiu em 1.245 veículos, média de sete
novas motocicletas/motonetas a cada dois dias. Janaúba possui uma motocicleta
para cada grupo de sete habitantes.
Estatísticas da Polícia Militar apontam o furto ou
roubo de uma motocicleta, em média, por semana em Janaúba. No ano de 2009 foram
43 motocicletas/motonetas furtadas ou roubadas no município. Em 2010 o número
reduziu para 35. A PM não informou os dados relativos a 2011.
A preferência pela aquisição das motocicletas em
relação aos automóveis leva se em conta o custo benefício. Com um litro de
gasolina é possuir transitar por até 50 quilômetros numa motocicleta, enquanto
que no carro o combustível seja suficiente para se locomover para até, em
média, uma dúzia de quilômetros.
A cidade de Janaúba necessita da implantação de
política pública e privada no que diz respeito à mobilidade urbana. Mesmo com o
crescimento habitacional e o surgimento de novas vias públicas, faltam
ciclovias. Diante disso, é visível o vai e vem de bicicletas no mesmo espaço
destinado para carros e motos – em proporção menor, esses veículos também transitam
e são estacionados em pistas exclusivas de bicicletas – o que aumenta os casos
de acidentes. O Ministério da Cidade disponibiliza recursos para o investimento
em ciclovias. Na maioria das vezes esses recursos é a fundo perdido.
Outra carência em Janaúba, principalmente na área
financeira e comercial é quanto aos estacionamentos. Há projeto para a
implantação de cobrança, por parte de instituição ou empresa autorizada pela
prefeitura, pelo estacionamento rotativo nas avenidas do Comércio e Brasil. Um
dos motivos que leva os janaubenses a utilizarem a bicicleta é quanto a insuficiência
no transporte coletivo urbano – há três linhas de lotação que circula de hora
em hora – e o alto preço da tarifa do táxi. Uma corrida de táxi entre a
Rodoviária e o centro e/ou bairro Padre Eustáquio custa de R$ 8,00 a R$ 10,00.
Quanto mais for afastado o destino, mas caro se torna o deslocamento via táxi.
A tarifa do lotação, que cobre alguns bairros, custa em torno de R$ 2,00,
enquanto que o preço do serviço de mototáxi varia de R$ 3,00 a R$ 5,00 dependendo
da distância da origem e do destino, mas é disponível em vários pontos do
centro e na maior parte dos bairros.
A MAIS constatou que para uma legião de ciclistas a
bicicleta é o meio de transporte ecologicamente correto. Isso deve ao fato de
que não é preciso poluir o ar por intermédio da combustão do combustível. Como
forma de incentivar a prática de exercício físico e também contribuir para a
redução dos acidentes e pela humanização no trânsito, o Pelotão da Polícia
Rodoviária Estadual de Janaúba, promove todo mês de setembro o passeio
ciclístico que envolve aproximadamente um mil ciclistas pelas vias públicas da
cidade. Um dos incentivadores pelo uso do veículo com duas rodas presas a um
quadro movido pelo esforço do próprio usuário é o ciclista José Carlos Pereira
Braga, o Braga. Ele promove constantemente eventos esportivos com participação
de ciclistas do Norte de Minas. O ciclista Braga ostenta a façanha de viajar de
bicicleta pelas rodovias brasileira. Ele já fez o percurso de Janaúba a
Brasília-DF em bicicleta quando encontrou, em ocasiões distintas, com dois
presidentes da República, Fernando Collor de Melo e Itamar Franco,
reivindicando benefícios para Janaúba e região. Nessas duas idas à capital
federal o janaubense Braga (que já foi carteiro dos Correios e maratonista da
internacional São Silvestre) ganhou dois souvenirs presidenciais, uma gravata
de Itamar Franco e o par de tênis de Collor. O ciclista Braga também viajou de
Janaúba ao Paraná numa bicicleta divulgando a campanha de prevenção à doenças
sexualmente transmissíveis. O advogado Daniel Pinheiro é adepto do ciclismo.
Nos finais de semana ele troca a mobilidade de automóveis e o “corre corre” do
trânsito de Janaúba pelas pedaladas na bicicleta nas vias públicas da cidade e
pelas aventuras no entorno do lago da barragem Bico da Pedra, numa espécie de
turismo rural através do meio de transporte ecologicamente correto. (*texto
produzido pelo jornalista Oliveira Júnior e extraído da revista MAIS, edição de
agosto de 2012)
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