AGROPECUÁRIA
FRIGORÍFICO INDEPENDÊNCIA PEDE PROTEÇÃO JUDICIAL NOS EUA
O frigorífico Independência, um dos maiores do País e que pediu proteção judicial no Brasil e nos EUA, informou que a forte queda na demanda por carne bovina por parte dos principais países importadores levou a um excesso de oferta que derrubou os preços do produto, afetando a lucratividade da empresa.
A empresa suspendeu os abates de bovinos em dez unidades no Brasil, dando férias coletivas para grande parte dos seus dez mil funcionários. "O tamanho e a velocidade desses eventos nos pegaram de surpresa e nos deram pouco tempo para reagir", afirmou o diretor de Relações com Investidores, Tobias Bremer, referindo-se à situação de queda nas vendas e endurecimento das condições de financiamentos.
A empresa confirmou que deixou de honrar o pagamento de um empréstimo de aproximadamente US$ 100 milhões junto ao banco JP Morgan. "O pagamento do principal (desse financiamento) ainda está devido", disse Bremer em uma teleconferência quando questionado por analistas sobre a operação com o banco americano.
De acordo com os documentos do pedido de proteção nos EUA, a dívida total da empresa chegaria a US$ 1,2 bilhão. O Independência não é listado em bolsa, mas realizou emissões de bônus para investidores internacionais nos últimos anos, em valores superiores US$ 500 milhões.
A empresa possui ao todo 23 unidades. Segundo a assessoria de imprensa, apenas as dez plantas de abates de bovinos estão sem operar. Bremer informou que a companhia tem planos de retomar parte dos abates nas próximas semanas.
O Independência havia conseguido uma injeção de capital de R$ 450 milhões recentemente junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Recebeu no final de novembro do ano passado a primeira parcela da operação, de R$ 250 milhões. Segundo Bremer, a segunda parte, de R$ 200 milhões, deveria ser repassada em meados deste mês.
Demanda
A empresa informou que a forte queda na demanda por carne bovina por parte dos principais países importadores levou a um excesso de oferta no mercado interno que derrubou os preços do produto, afetando a lucratividade.
O Independência disse que precisou redirecionar carne que originalmente seria destinada ao mercado externo para o mercado local, assim como outros frigoríficos exportadores, o que gerou "competição predatória e queda nos preços".
"Em janeiro os preços de exportação e os volumes caíram desastrosamente, e devido aos preços altos do boi (no Brasil) a receita com as exportações foi negativa, mesmo com a desvalorização do real", disse a empresa.
Além disso, o Independência informou ter recebido calote em cerca de 20% das vendas externas de carne no último trimestre do ano passado. Segundo a companhia, os valores atuais de venda no mercado doméstico não cobrem os custos de produção, motivo também citado para suspender os abates.
O Independência informou que os volumes de exportação de carne bovina caíram quase três vezes mais que o recuo nos abates, gerando excesso de oferta no mercado brasileiro. Sobre crédito, a empresa citou a escassez de linhas de financiamento e o aumento dos juros cobrados. Disse que o custo nas linhas em dólar subiu de 6% para 12% ao ano e nas linhas em reais de 110% do CDI para 170% do CDI.
Bremer informou que o Independência tem 60 dias para apresentar à Justiça brasileira um plano de recuperação de suas operações. Outras grandes empresas do setor de carne bovina no Brasil também recorreram a proteção judicial recentemente, como o Margen e a Arantes.
A agência de classificação de risco Standard & Poors informou nesta segunda-feira que reduziu sua nota para o Independência de "B" para "D", devido ao pedido de recuperação judicial no Brasil e à suspensão da maior parte das atividades da empresa. (Fonte: Reuters News)
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