MIRABELA (por Girleno Alencar)
– O município de Mirabela está com medo de perder o seu principal símbolo, a
carne de sol. O prefeito Luciano Rabelo alega que o Ministério Público deu
prazo até o dia 25 de março para ser instalado um abatedouro ou frigorífico na
cidade, mas o problema é que será necessário o investimento de R$1 milhão e a
Prefeitura não tem esse dinheiro. O seu temor é que Mirabela deixe de produzir
sua carne e seja obrigada a trazer de Montes Claros, perdendo assim a tradição.
Na segunda-feira o assunto foi discutido em reunião na cidade de Mirabela,
Luciano Rabelo afirma que quer ajudar, pois a cadeia produtiva da carne envolve
toda a comunidade, tanto urbana quanto rural. “Temos descobrir uma solução, mas
toda e qualquer ação deverá ter o aval do Ministério Público. A Prefeitura
pode, por exemplo, ceder um caminhão para que os animais sejam levados Montes
Claros, mas nosso receio é o valor final do produto. Não mediremos esforços
para que a população não pague o preço do transporte e abate em outro
município”, garantiu Luciano.
Um dos maiores
investidores do setor, o empresário José Wilson, tem cerca de dez açougues se
dispôs a implantar um abatedouro na cidade, mas o custo é alto, que pode chegar
a R$1,5 milhão e gerar até 12 postos de trabalho. Entretanto, não há volume
para abate, pois são apenas 20 bois por dia. A solução seria incorporar os
animais abatidos em Patis, Japonvar, São João da Ponte, Brasília de Minas e
Lontra. Na próxima segunda-feira (08), a convite do Prefeito Luciano, um
representante do Frigonildo de Montes Claros vai a Mirabela explanar as
possibilidades. Ao mesmo tempo, um investidor de fora que havia sinalizado a
possibilidade de fazer o empreendimento será acionado.
Uma pesquisa da UFMG em
2010 mostra que a carne de sol pode esconder, por trás de seu marcante paladar,
riscos à saúde. É o que aponta pesquisa desenvolvida pelo Instituto de Ciências
Agrárias (ICA) da UFMG em 30 estabelecimentos que produzem e vendem carne de
sol nas cidades de Montes Claros e Mirabela. “Normalmente, o processo é
realizado em condições precárias de higiene e sem controle de qualidade,
comprometendo a conservação e a comercialização”, alerta a pesquisadora Aline
Luciane de Moura Cruz. Ela lembra que o Regulamento de Inspeção Industrial e
Sanitária de Produtos de Origem Animal, do Ministério da Agricultura, não
estabelece padrão de identidade e qualidade, nem define as instalações e o
processo de fabricação da carne de sol.
Os resultados da pesquisa
deram origem à dissertação de mestrado defendida por Aline, pelo programa de
pós-graduação em Ciências Agrárias do ICA. Para comprovar as reais condições do
produto, ela avaliou a qualidade microbiológica e físico-química das amostras
de carne de sol coletadas nas duas cidades e identificou, por meio de
entrevistas com os manipuladores, as práticas adotadas durante o processo de
produção, diagnosticando ainda as condições higiênico-sanitárias de produção e
comercialização do produto, por meio de uma lista de verificação das Boas Práticas
de Fabricação. Também foram feitas análises microbiológicas nas mãos de
manipuladores, em utensílios, ambientes de manipulação e amostras de água.
Segundo a pesquisadora,
na época, a contagem de bactérias, bolores e leveduras encontradas na carne de
sol indicou condições higiênico-sanitárias insatisfatórias e características
microbiológicas indesejáveis. As análises sugeriram a presença da bactéria
salmonela em 73,33% das amostras de carne de sol. “Isso pode representar riscos
à saúde dos consumidores”, alerta Aline, lembrando que entre as principais
consequências da contaminação por salmonela estão dores de cabeça, calafrios,
febre branda, problemas gastrointestinais, náuseas, fraqueza e, até mesmo,
morte. (Fonte: jornal Gazeta Norte Mineira)
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