- Possível rompimento
comprometeria 5.500 ha do Projeto Gorutuba e o abastecimento de água da
população de Janaúba e de Nova Porteirinha
Fotos Manoel Freitas
Vista parcial da barragem de rejeitos de mineração no município de Riacho dos
Machados.
RIACHO DOS MACHADOS (por
Manoel Freitas) – Único reservatório de rejeitos do Norte de Minas, com área de
50 ha, 33 m de altura e com volume de 3.716.025,94 m³, a Barragem de mineração
de Riacho dos Machados, distante 144 km de Montes Claros, “é uma bomba relógio
da que funciona desde maio de 2009 extraindo ouro, inicialmente sob alegação de
pesquisas, e, posteriormente, apenas com base em Licença Prévia concedida pela
Secretaria de Estado de Meio Ambiente em abril de 2010, referendada pela
Unidade Regional Colegiada de Minas (URC), do Conselho Estadual de Política
Ambiental (Copam)”.
Fotos Manoel Freitas
Rafael
Macedo Chaves, do Ibama, autor da denúncia.
A denúncia foi feita por
Rafael Macedo Chaves, engenheiro florestal e analista do Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), durante a reunião
extraordinária do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Verde Grande, alertando
que “além do risco de morte de centenas de famílias, em face de inúmeras irregularidades,
na hipótese de rompimento comprometeria a maior represa da região, a Barragem
Bico da Pedra, distante 31 km, em Janaúba, com volume de 750.000.000 m³,
construída em 1978 para irrigação de 5.500 hectares do Projeto Gorutuba e
abastecimento de água para uma população estimada em 2018 de 71265 habitantes,
segundo o IBGE.
Para Rafael, que é também
membro do Comitê, “não se vê cuidados da empresa para contenção dos focos
erosivos”, que seria seu principal problema da mina que foi comprada da
Companhia Vale do Rio Doce em maio de 2009 pela empresa Carpathian Gold Inc.,
mais recentemente foi vendida para outra empresa, também canadense, a Brio Gold
Inc. Ele explicou que "as populações circunvizinhas não sabem que estão em
área de risco, que suas casas podem ser atingidas por um possível rompimento da
barragem, ou seja, estão morando abaixo da bomba prestes a estourar na sua
cabeça”.
Fotos Manoel Freitas
Promotor
Daniel Piovanelli, do Ministério Público.
Disse que tem procurado chamar a atenção das autoridades para as
falhas na barragem, principalmente depois que a empresa assinou protocolo de
intenções com o Governo de Minas para investimentos da ordem de U$ 250 milhões,
operando então a partir do deferimento da outorga Ad Referendum para a barragem
de rejeitos, emitida pela Supram em agosto de 2011. Para 2019, já sob o controle
da Brio Gold Inc, a estimativa é produzir entre 95 mil onças, ou seja, 2850 kg
de ouro, na cotação internacional de ontem R$ 454,442 milhões de reais.
Com relação à barragem de
rejeitos, Promotor de Justiça do Estado de Minas Gerais Daniel Piovanelli, Coordenador
Regional das Bacias dos Rios Verde Grande e Rio Pardo de Minas é Coordenador
Regional do Meio Ambiente do Ministério Público Estadual no Norte de Minas,
explicou que o Ministério Público não tem competência técnica para arbitrar
sobre estabilidade e segurança de barragem, sendo esta atribuição da Agência
Nacional de Mineração (ANM). Por outro lado, garantiu que o MP “vem
acompanhando as denúncias em relação à estrutura construída transversalmente
aos vales e utilizada para decantação e manutenção de rejeitos e égua de
processo, e já assinou com a mineradora de dois Termos de Ajustamento de
Conduta (TAC), que foram acatados”.
Vista da barragem de
rejeitos da atividade de mineração nos municípios de Riacho dos Machados e
Porteirinha.
Além da concessão de
outorga do direito de uso das águas dos córregos sem os devidos estudos
técnicos, o Ibama tornou público que a mineradora opera sem apresentar plano de
abastecimento de água do empreendimento, “então, quando eles iniciaram as
atividades, viram que iam ficar sem água, aí saíram comprando água dos
vizinhos, abrindo poços populares nas comunidades do entorno, pagando para as
famílias valores em torno de R$300 e R$500 reais, todos perfurados sem
autorização, no peito e na raça”.
André Viana Melo,
engenheiro civil e um dos responsáveis técnicos pela barragem de rejeitos na
empresa LeaGold Inc, explicou que a barragem de rejeitos em Riacho dos Machados
é do tipo alteamento a jusante, “método mais caro e mais seguro, diferente das
que ocorrem em Mariana e Brumadinho, alteamento a montante, mais baratas e mais
inseguras”.
Comentários