*por Alberto Sena
Quando
viajo pela BR 251, que atravessa Montes Claros e se conecta à BR 116,
Rio-Bahia, reflito sobre o tamanho da estupidez humana. Não entendo, e muito
menos compreendo, porque o governo federal opta por investir, em matéria de
transporte, só nas rodovias em detrimento das ferrovias.
Com
essa extensão territorial, o Brasil devia investir em estrada de ferro a fim de
desafogar as rodovias brasileiras congestionadas de caminhões, carretas,
cegonheiras, bitrens e as suas consequências.
É
de assustar o tráfego de caminhões pesados na BR 251. E não é necessário ir
muito longe para verificar o tamanho da estupidez humana nesse particular: do
trecho entre Montes Claros até o entroncamento com a estrada de Grão-Mogol, MG
307, carretas cortam cegonheiras, que ultrapassam bitrens e assim vão-se filas
e mais filas de veículos cujo peso das cargas destrói logo o asfalto. Asfalto
vagabundo importa dizer.
Foto Oliveira Júnior
Pátio da estação ferroviária da cidade de
Janaúba, Norte de Minas Gerais.
Quem
já teve a oportunidade de sair do País e conheceu rodovias holandesas ou alemãs
fica boquiaberto quando viaja por uma BR como a 251. Lá fora, o asfalto das
estradas é consistente, nem de leve se parece com essa rala camada preta vista
aqui. As estradas são bem sinalizadas e os motoristas respeitam as leis.
O
dinheiro do contribuinte é utilizado para pagar asfalto mais durável,
entretanto a qualidade duvidosa redunda na baixa durabilidade; bastam chuvas
primeiras para esburacar as estradas.
O
declínio do transporte ferroviário de carga e de passageiros se iniciou no
governo do então presidente Juscelino Kubitschek famoso, JK chamado. Ele até
ganhou o epíteto de “presidente estradeiro”. E tinha de sê-lo porque comprou o
lobby automobilístico norte-americano ao trazer para o Brasil a indústria
automobilística. Era necessário abrir estradas para os carros, e assim o fez
JK. As estradas de ferro foram relegadas, abandonadas, enferrujadas,
destruídas, enfim.
Essa
geração a envelhecer a cada passo viveu os tempos gloriosos da ferrovia. Houve
época que se podia viajar de trem a partir de Salvador, na Bahia, passando por
Montes Claros, até Belo Horizonte, onde era feita conexão para o Rio de Janeiro
no trem Vera Cruz. Além do transporte de passageiros e de carga, uma viagem
desta era uma aula sobre Brasil para as pessoas debruçadas nas janelas do trem.
Foto Oliveira Júnior
BR-251 trecho próximo ao posto fiscal, município
de Montes Claros.
Embora
nem tão antigo assim, viajei com a família de Montes Claros à capital, de Maria
Fumaça, logo substituída pela máquina a óleo. Uma viagem de Montes Claros a
Belo Horizonte em trem puxado por Maria Fumaça demandava 24 horas. Saíamos às
5h da manhã e só chegávamos ao destino às 5h do dia seguinte. Depois, com o
advento da máquina a óleo, o tempo de viagem caiu para 15 horas.
A
estrada de ferro, depois de instalada, requer menos manutenção que as rodovias.
Um vagão de carga leva muito mais mercadorias que caminhões, carretas,
cegonheiras e bitrens.
Em
qualquer lugar da Europa o cidadão pode viajar de trem. No Japão, território
pequeno, é possível pegar um trem bala e atravessar o país. Em Israel, menor
que o nosso Estado de Sergipe, trens cortam o território por onde um dia andou
o Salvador da humanidade.
Pelo
que se pode vislumbrar de tudo isto, em defesa da volta do trem de passageiros,
o problema do transporte brasileiro é político. Alguns ganham com os
investimentos em rodovias.
Nem
imagino o tamanho dos prejuízos sofridos pelo contribuinte com a destruição das
ferrovias, das estações de belo estilo arquitetônico e das máquinas em todos os
quadrantes do País.
Mas
acredito: se se fizesse um plebiscito entre os brasileiros sobre a necessidade
de investimento em ferrovias, o resultado certamente seria um estrondoso “sim”.
Por tudo, os trens são mais interessantes que os carros, protagonistas de
acidentes horríveis, ceifam diariamente dezenas de vidas.
Não
se deve ignorar: acidentes ferroviários também acontecem, mas, atualmente,
trens modernos são menos vulneráveis e muito mais confortáveis. Numa viagem de
trem se pode andar de um vagão para o outro ou sentar à mesa do restaurante e
se servir de bebida e comida em alto estilo.
Na
cabine de uma carreta, o que acontece ao condutor senão ficar atento para não
trombar no outro ou ter atenção para desviar dos múltiplos buracos em
proliferação nas estradas brasileiras? Estradas mal construídas compactadas com
o dinheiro público, que alimenta a corrupção desenfreada a envergonhar os
cidadãos de bem. (Texto extraído do site
montesclaros.com onde teria sido publicado às 12h11 de ontem, domingo, dia 22
de julho de 2012)
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