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Em Manga, a travessia no rio São Francisco é feita por balsa.
*por Aroldo Cangussu
Apreciar o rio São Francisco, a sua paisagem e as suas águas, desde a cachoeira Casca D´Anta na nascente no sudoeste de Minas Gerais até os cânios próximos a sua foz e a entrada triunfal no Oceano Atlântico, na divisa entre os estados de Sergipe e Alagoas, é muito prazeroso. Mesmo com os problemas sobejamente conhecidos – assoreamento, desmatamento, poluição – ainda assim ele é muito bonito.
Entretanto, quando se tenta atravessá-lo, de balsa, entre os municípios de Matias Cardoso e Manga, a belza do rio é ofuscada pela irritação, descontentamento e tristeza. O serviço é pessimamente gerenciado, o atendimento aos usuários é lamentável e a pobreza da região fica gritante.
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Porto de Manga, no lado direito do rio São Francisco, no município de Matias Cardoso.
Existem cinco balsas no local, de três proprietários. Apesar de a travessia ser feita de trinta em trinta minutos durante o dia inteiro, a impressão que fica é que cada viagem parece ser a primeira da vida da tripulação. Ao encostar-se à margem do rio, o barranco precisa ser “adaptado” manualmente com pás e enxadas para que os veículos possam descer. A balsa fica abarrotada de autoóveis, caminhões motos e pessoas e durante a viagem eles são acomodados nas posições que os tripulantes acham mais seguros. É um problema constante a travessia de caminhões de carvão – muito comuns na região – e carretas mais pesadas. A sensação de insegurança é constante.
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Porto de Manga, no lado esquerdo do rio São Francisco, na cidade de Manga.
Não existe nenhum programa de conscientização ambiental. Os passageiros atiram na água do rio qualquer tipo de objeto descartável: papel e palito de picolé, garrafas de toda qualidade, sacolinhas plásticas e cascas de frutas. O sol é inclemente e o calor insuportável – não existe cobertura nas balsas. A travessia pode demorar vinte minutos ou até duas horas. Não tem nenhum tipo de planejamento operacional e nem esquema de engenharia para a coordenação dos serviços.
Além disso, as embarcações que empurram – ou puxão – as balsas ao violentamente poluidoras. Elas são acionadas por motorores a diesel que despejam um canudo negro de fumaça para o ar. Obserba-se nesses barcos derramento de óleo para todos os lados. A manutenção passa longe do local. Tudo é muito precário e improvisado e quem sofre com isto, acima de tudo, é o belo e velho Chico, além, é claro, das pessoas que precisam desse serviço.
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Caminhão atola na areia no Porto de Manga, no município de Matias Cardoso, lado direito do rio São Francisco.
Conversei com um membro da tripulação e esse me disse que tudo isto acontece por ganância dos proprietários e concessionários das balsas que não têm interesse em melhorar nada, desde que o dinheiro esteja entrando normalmente do jeito que está. Segundo apurei, esses proprietários são polítcos da região e, por isso mesmo, a salvo de exigências ambientais, de segurança e operacionalidade dos órgãos de fiscalização do governo.
Acho que é papel das autoridades impedirem a continuidade desse descalabro de serviço público, a começar pelo Comitê de Bacia do Rio São Francisco, que teria o dever de intervir no assunto, como bem determina a Lei 9.433/97 e, também, o Ministério Público e os órgãos ambientais, além do CREA e as prefeituras dos municípios envolvidos.
*Texto de autoria do janaubense Aroldo Roberto Cangussu, Engenheiro Ambiental.
**Texto publicado na coluna de Aroldo Cangussu, no Jornal da Serra Geral, com sede em Janaúba, na página 02, edição de 07 de maio de 2011.
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